Tendências: Há novos conceitos híbridos no Turismo
Os conceitos híbridos estão a inundar o sector do turismo. Muitos especialistas utilizam o termo “Hibridização Turística” para descrever estas novas práticas turísticas que tentam combinar características, necessidades e exigências entre dois segmentos de mercado. Há hibridização notória nas ofertas turísticas e está a multiplicar-se e a reformular a oferta do sector. Hoje existem conceitos como Glamping (Campismo de Luxo - que envolve alojamento e instalações mais luxuosas do que as associadas ao campismo tradicional), Bleisure (Negócios e Lazer - é simplesmente a prática de combinar viagens de negócios e viagens de lazer numa só viagem) e Workation (Férias em Trabalho - uma combinação de trabalho e férias. É fazer uma viagem enquanto se continua a trabalhar online), ou Staycation (estada + férias) com a motivação direccionada para revisitar os destinos locais.
O sector do turismo foi construído sobre um conjunto de serviços. Há quem aponte que Thomas Cook, ao propor as suas primeiras viagens em 1841, teve a intenção de "utilizar o caminho-de-ferro para combater o alcoolismo levando trabalhadores ingleses para o campo". Combinou uma oferta de transporte e uma oferta de visita enquanto mudava o perfil do trabalhador para o de turista. Posteriormente, o posicionamento da oferta foi construído justapondo as actividades turísticas (viagens, dormidas) com motivações (científicas, culturais, gastronómicas) ou práticas (desportivas, itinerantes, à beira-mar).
Assim, a estada num local funde a vida quotidiana do anfitrião com a dormida e o pequeno-almoço dos viajantes; o agroturismo combina a actividade diária dos produtores com a descoberta de actividades rurais pelos habitantes das grandes urbes; e o turismo regenera-se e como hoje se afirma, *co-*constrói *"*uma visão sustentável e colaborativa do sector". Neste sentido, as ofertas cruzam-se e combinam o posicionamento de mercado para multiplicar e reinventar as experiências turísticas. Assim, as práticas estão a fundir-se e a hibridização no turismo tornou-se uma forma de promover novos comportamentos, à margem das práticas habituais, ao mesmo tempo que se mantém perfeitamente de acordo com o desejo de individualidade e originalidade do viajante moderno.
Ofertas Híbridas para Reformular o Sector
A maioria dos componentes do sector está preocupada com esta tendência de hibridização. No entanto, já passamos no alojamento por quatro ondas de hibridização no sector hoteleiro. Primeiro, nos anos 90, quando as residências turísticas (longo prazo) combinaram uma actividade hoteleira (curto prazo) com serviços hoteleiros (seminários, spas, etc.). Depois, com a chegada dos Lifestyle Hotels (hotéis onde se combinam elementos de estilo e actividades e design funcional, que depois evoluíram para os designados por Boutique Hotel. Também se assistiu a um esbatimento das fronteiras entre hotéis e albergues e, finalmente, com a última vaga, associada à Colive (oferta de casas partilhadas muito associada às comunidades praticantes de surf e jovens trabalhadores), e o coworking a utilização de um escritório, por vezes associada com alojamento (Hotel Escritório), por pessoas que trabalham por conta própria ou para diferentes empregadores, de modo a partilhar equipamento, ideias e conhecimentos.
Ao longo do tempo parece que o sector hoteleiro precisa de repensar os modelos, diversificar e afastar-se de uma simples oferta de alojamento.
Transporte: Espaços como estações ferroviárias estão a reinventar-se com mudanças de vocação que tendem para a multifuncionalidade: hotel, galeria de arte, escritórios, etc. No transporte, a noção de híbrido é caracterizada sobretudo pelo desejo de reduzir o impacto ambiental causado pelo avião ou pelo comboio. Para ser híbrido, a mobilidade deve ser reinventada para um carro multifuncional ou partilhado para desenvolver o transporte do amanhã.
Espaços: Actualmente, os limites dos espaços físicos e virtuais estão entrelaçados. A percepção de um destino depende mais da sua capacidade de ser viral nas redes sociais do que das fronteiras administrativas que o encerram. A experiência turística torna-se figital (física + digital) e reconfigura o espaço turístico de acordo com a visão do viajante e através da sua representação virtual. Esta é a mesma noção que parece constituir o horizonte do sector dos eventos. Embora os encontros físicos continuem a ser essenciais para reunir os intervenientes, o digital posiciona-se como um complemento da actividade que implica uma evolução dos eventos tradicionais.
Governação: A governação do turismo reflecte a forma como a actividade é gerida nos destinos. Os organismos institucionais não são os únicos interessados, uma vez que envolve todos os intervenientes do destino. Os sectores estão a reunir-se (parcerias público-privadas) e as dinâmicas estão a intensificar-se (incubadoras, lugares diferentes, etc.). Esta governação está também a tornar-se híbrida com o desenvolvimento de clusters que tentam valorizar um património turístico através da criação de redes de intervenientes públicos, privados, académicos, residentes, turísticos ou não. Ao mesmo tempo, o turismo está a tornar-se transversal e as instituições turísticas estão a desaparecer em favor de agências de atracção mais globais. Assim, as organizações estão a fundir-se e a reinventar-se para encontrar a melhor forma de conceber a actividade turística. Esta procura de hibridismo nas relações entre os intervenientes continua a ser essencial para contribuir para o desenvolvimento de uma estratégia eficaz e eficiente.
Hibridização para uma Oferta Reinventada
Para conceber verdadeiramente uma sociedade híbrida, os lugares devem ser repensados de forma multiuso, multisserviço e multigeracional. Os Jogos Olímpicos mostram claramente os limites de um desenvolvimento pontual das actividades e os danos causados ao ambiente, à economia e à sustentabilidade das estruturas. Da mesma forma, o exemplo do turismo excessivo mostra como a inclusão dos habitantes é essencial para o desenvolvimento de um destino equilibrado. A hibridização no turismo será assim revelada pela junção de acções verdadeiramente benéficas para os habitantes, os residentes e os destinos. Ao construir novos conceitos, significa conceber o sector "fora da caixa” e propor uma renovação constante das ofertas turísticas.
06 Setembro 2021